segunda-feira, 14 de abril de 2025

Sobre o tempo, minha mãe!

Yedda Goulart

Quando o tempo passa, viajamos em seus dias, e distraídos, não percebemos a velocidade que nos afasta das várias estações de   embarque e  desembarques do  que vamos deixando  para trás....
Infância, juventude, estudos, casamento, filhos ,trabalho ,responsabilidades que engolem nossas horas!

Sentimentos, emoções, ganhos e perdas vão ficando nas curvas do caminho, literalmente, porque nas rápidas olhadas ao passado nem sempre conseguimos vislumbrar o que ficou, onde e como ficou aquela alegria, aquela dor, aquela decepção ou aquele dia glorioso em que vencemos algum contratempo,alguma luta mais difícil, mais dolorosa que  superada, fecha mais uma ciclo do aprendizado de viver!

Quando nos damos conta, passaram-se vinte, trinta ,cinquenta anos! Deus do céu!
Onde anda aquela criança , aquela jovem mãe que dormia mal e no meio da noite ia verificar se o pequeno ser ao seu lado respirava?
Se estava bem agasalhado nas noites frias dos planaltos ou nas cercanias dos mares?
Ou que dividia seu tempo entre os mais variados trabalhos e o encantamento de embalar seus filhos ou de proteger seus primeiros passos?

Pra onde foram as preocupações, a cada nova etapa daquele ser que teimosamente  viciamos  proteger até quando não deseje mais nossa proteção ?
Então , a pausa para pensar em nós mesmas nos faz nostálgicas e  percebemos um tanto assustadas que o tempo passou muito, muito depressa!

Durante parte ou todo o tempo estava conosco, meio de lado, meio esquecida como se parte de nós mesmas a figura amorosa de nossas mães!
Que podem estar aí , bem agora, ao teu lado  - ou que há muito tempo partiu para novos aprendizados e missões!

Quando o espelho reflete nossos próprios cabelos brancos, nossas faces de avós percebemos que chegou a nossa vez de  aprender a ficar um tanto de lado, e que deixamos de ser  filhas e filhos e passamos a ser pais e avós!

É o tempo passou e passa a cada segundo, porém percebemos que durante todo o percurso alguém nunca esquecido de verdade nos fez lembrar das bagagens   que precisamos carregar até passá-las a quem nos sucede até mesmo,muito antes da -ultima viagem!
Obrigada minha Mãe inesquecível !

segunda-feira, 24 de março de 2025

CASA ROSA -veja fotos e sinta comigo

 "Casa rouca submersa no matagal,teu galo ficou .E seu canto perdeu o timbre do sol,já não inaugura os dias.E se fez adequada aos estragos do reboco,à podridão das esquadrias- última secreção de paredes gemidas.Galo rouco,casa rouca"(Aníbal Machado)

Eu não sabia quanto era importante para mim a visão daquele mundo vivo e dançante que fazia da cidade barulhenta ,mecânica e rotineira um espaço menos duro,mais terno e aconchegante.
Eu o valorizava ,sim.Era um bálsamo para meu olhar!
O verde de variados tons dançando com o vento,era vida,promessa,lembranças,acalanto!
Hoje ,o espaço está morto,vazio,imóvel!Os pássaros partiram.Em dois dias homens e máquinas, sem piedade foram derrubando cada árvore,cada flor,cada ninho!
Nem eu sabia o quanto me importava.O som das inúmeras quedas,como corpos sendo derrubados, sem um lamento, calaram fundo em minha alma.Quantos anos foram deixados em paz,crescendo,multiplicando-se,oferecendo-se aos olhares e ao sol!
Tornavam minha rua mais próxima de sua história!Quem teria vivido ali?A casa rosa compunha com a natureza em volta um quadro encantador que falava de um tempo em que nas tardes de verão as crianças brincavam na rua.Um tempo em que as pessoas colocavam cadeiras nas calçadas e vizinhos se reuniam para comentar os acontecimentos da pacata capital do Estado.
Quando raramente passava um automóvel e não havia ambulâncias gritando a dor que carregam.O hospital era distante.Lá do outro lado,na colina diante da baía sul!
A casa rosa e eu nos conhecemos ,assim de perto,há muito pouco tempo.Mas,ela já faz parte do meu horizonte próximo para onde deslizava meu primeiro olhar todos os dias!
E a vida me saudava no canto dos pássaros,até  gralhas azuis que pareciam ter descido a serra para
saudar minhas nostalgias!
As palmeiras balançavam como que a embalar ninhos acolhidos em suas palmas.
Havia vida,movimento,melodia,natureza!
Hoje,com tristeza, todos os dias desvio o olhar daquele deserto onde só a casa rosa, agora desnuda aguarda seu destino!
Logo ,caminhões e máquinas voltarão!E por ela vão passar toneladas de cimento,e o ruído intenso de perfuradores farão tremer seu corpo.Os pássaros já se foram, felizmente não para muito longe, ainda!
O bosque perdeu seu prolongamento, mas persiste.Por quanto tempo?
Sobre a rua de outrora, uma via rumorosa, sacudida por mil motores, gemendo, deixa fluir seres humanos apressados e desatentos para a beleza ao seu redor!
É a bucólica cidade substituída pelo progresso, pagando o preço por ser tão bela!
Mas, em minha retina, saudosa ficará a mata derrubada  que vestida de festa emoldurava a linda Casa Rosa da Bocaiuva!