terça-feira, 8 de janeiro de 2013

CASA ROSA -veja fotos e sinta comigo

 "Casa rouca submersa no matagal,teu galo ficou .E seu canto perdeu o timbre do sol,já não inaugura os dias.E se fez adequada aos estragos do reboco,à podridão das esquadrias- última secreção de paredes gemidas.Galo rouco,casa rouca"(Aníbal Machado)

Eu não sabia quanto era importante para mim a visão daquele mundo vivo e dançante que fazia da cidade barulhenta ,mecânica e rotineira um espaço menos duro,mais terno e aconchegante.
Eu o valorizava ,sim.Era um bálsamo para meu olhar!
O verde de variados tons dançando com o vento,era vida,promessa,lembranças,acalanto!
Hoje ,o espaço está morto,vazio,imóvel!Os pássaros partiram.Em dois dias homens e máquinas, sem piedade foram derrubando cada árvore,cada flor,cada ninho!
Nem eu sabia o quanto me importava.O som das inúmeras quedas,como corpos sendo derrubados, sem um lamento, calaram fundo em minha alma.Quantos anos foram deixados em paz,crescendo,multiplicando-se,oferecendo-se aos olhares e ao sol!
Tornavam minha rua mais próxima de sua história!Quem teria vivido ali?A casa rosa compunha com a natureza em volta um quadro encantador que falava de um tempo em que nas tardes de verão as crianças brincavam na rua.Um tempo em que as pessoas colocavam cadeiras nas calçadas e vizinhos se reuniam para comentar os acontecimentos da pacata capital do Estado.
Quando raramente passava um automóvel e não havia ambulâncias gritando a dor que carregam.O hospital era distante.Lá do outro lado,na colina diante da baía sul!
A casa rosa e eu nos conhecemos ,assim de perto,há muito pouco tempo.Mas,ela já faz parte do meu horizonte próximo para onde deslizava meu primeiro olhar todos os dias!
E a vida me saudava no canto dos pássaros,até  gralhas azuis que pareciam ter descido a serra para
saudar minhas nostalgias!
As palmeiras balançavam como que a embalar ninhos acolhidos em suas palmas.
Havia vida,movimento,melodia,natureza!
Hoje,com tristeza, todos os dias desvio o olhar daquele deserto onde só a casa rosa, agora desnuda aguarda seu destino!
Logo ,caminhões e máquinas voltarão!E por ela vão passar toneladas de cimento,e o ruído intenso de perfuradores farão tremer seu corpo.Os pássaros já se foram, felizmente não para muito longe, ainda!
O bosque perdeu seu prolongamento, mas persiste.Por quanto tempo?
Sobre a rua de outrora, uma via rumorosa, sacudida por mil motores, gemendo deixa fluir seres humanos apressados e desatentos para a beleza ao seu redor!
É a bucólica cidade substituída pelo progresso, pagando o preço por ser tão bela!
Mas, em minha retina saudosa ficará a mata derrubada  que vestida de festa emoldurava a linda Casa Rosa da Bocaiuva!

2 comentários:

Terezinha disse...

Bem lindo, tia Yedda! E bem triste... Mais uma casa antiga que vai deixar apenas lembranças na memória de quem morou nela...

Jussara disse...

Infelizmente tia Yedda,o crescimento mal elaborado desta cidade que só pensa em construir torres para aprizionar o sabor de apresciar casas com jardins com árvores, gramados e flores repletos de pássaros! Mas que bom ter alguém que apresciou e pode nos transmitir a maravilha dos tempos de outrora.