segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Resenha do livro "Na Terra do Faz de Conta"

Cardozo. Flávio José. “O Tesouro da Serra do Bem-Bem” São Paulo. Ed.Saraiva, 2002

*Publicado no Boletim “O Balainho”


Neste livro para a infância, Flávio José Cardoso, autor reconhecido nas letras de Santa Catarina pelas inúmeras obras endereçadas com sucesso aos amantes do romance, da crônica , etc resolve dedicar aos mais jovens um espaço den-tro de sua produção ficcional.

Para isto, resgata o olhar infantil relegado a segundo plano, temporariamente, em seu imaginário e em companhia de Xandro , Leco e Lucinha viaja no es-paço do fantástico maravilhoso , ciceroneados pelo Bem-Bem , um bem-te-vi segregado do bando por ser diferente .Apesar disto,é ele que conduz os perso-nagens para as terras distantes da meninice ,lá pelas bandas da Serra do Rio do Rastro ,onde estão fincadas suas raízes.

De repente, enfeitiçado, provavelmente pelas bruxas da ilha , lá no seu refúgio de Santo Antônio de Lisboa , o autor é seqüestrado para o mundo mágico da infância onde o espaço e o tempo se curvam aos nossos desejos e transforma o cotidiano do refúgio , no reino encantado , do bem-te-vi Bem-Bem ,condutor da aventura.

E aqui, o tema da diferença, do abandono e das possibilidades nunca sonhadas compõe uma delicada história que envolve a alma infantil sempre aberta ao extraordinário e à inclusão do mundo fantástico, numa aventura partilhada , em que a liberdade flutua nas entrelinhas através dos elementos :um perso-nagem alado , espaço e tempo indeterminados ,transformações inesperadas, que compõem a estrutura imaginativa da narração.

Pela subversão da realidade o jardim do refúgio se transforma no universo fantástico onde as coisas são o que se quer que elas sejam.
Tempo e espaço não contam. Desaparece o confinamento da visão adulta e o ouvido é capaz de perceber o som diferente do Bem-Bem.

Conduzido pelas crianças e pelo pequeno bem-te-vi, o Vô Pedro embarca no carrinho de mão do jardineiro que é, neste nível, uma possante caminhonete XLL-1000 e todos juntos partem paras os caminhos da serra do Rio do Rastro, em busca de um tesouro que só o Bem-Bem sabe onde está. E o Bem-Bem, é na verdade o próprio autor, livre para voar às paragens da infância acompanhado dos netos, com os quais deseja partilhar sua meninice – o tesouro a ser encontrado.

No espaço do jardim cabe não só a fantasia como também todas as cidades, que vivem na memória do autor e que margeiam a estrada que levará ao alto da serra onde está o tesouro do Bem-Bem.

O tempo da trama é permeado do tempo da memória e o espaço do jardim é o espaço subvertido da aventura; a distância pode ser vencida sem sair de casa e num simples carrinho de mão esquecido no galpão.

A simbologia da literatura infantil está presente no personagem Bem-Bem,o condutor da aventura. Seres alados e seres humanos buscam o tesouro da li-berdade, da percepção dos universos que nos cercam, da valorização das dife-renças,da subversão das convenções e das possibilidades .

As ilustrações são de Evandro Luiz e como sugere a contra-capa: Se você de-seja saber que tesouro se esconde no alto da serra procure ler rapidinho este livro lembrando , se for adulto, que através da leitura poderá voltar à infor-malidade e à despreocupação da infância .

Se é criança,pode embarcar na XLL-1000 e boa viagem.

Nenhum comentário: