De uns tempos para cá tenho
observado com mais atenção o que provoca tantas dissensões entre as pessoas.
Além daquelas que há muito todos nós observamos como a inveja, (de posses, de aparências,
de sucessos, fanatismos) e por aí afora, as diferenças de visão de mundo, ou da
capacidade do equilíbrio ou do bom senso em relação à interpretação de fatos
reais ou ficcionais é que provocam rupturas de comunicação e de
relacionamentos.
Assim, vale dizer, que as
consequências destas rupturas é que provocam desentendimentos que podem ser
transformados mesmo em sérios conflitos,guerras,separações e que geram vingança
e desequilíbrios morais .
Nos tempos que transcorrem temos
presenciado a ruptura ética em todas as suas formas tais como valores,
comportamentos políticos, religiosos, direitos e deveres, e por aí afora.
Algumas rupturas foram benéficas
e trouxeram avanços no caminho da evolução humana: tais como o respeito a diferenças,
a inserção das minorias na participação destes direitos alicerçados em leis que
os respaldam, execução de serviços que favoreçam pessoas especiais, cadeirantes,
idosos, crianças e jovens, deficiências de qualquer natureza, respeito às
diferenças raciais, etc. Crescendo também a proteção ao meio ambiente
trabalhada nas escolas e mais compreensão em relação às reivindicações dos
movimentos sociais.
São bons indícios de uma evolução
consciente e menos irracional, porém ainda insuficientes e desrespeitados pela maioria,
mesmo quando colocam a vida humana em jogo como o caso da falta de consciência
no trânsito que tem desperdiçado tantas vidas.
Na verdade, este raciocínio foi
inspirado no livro “A Marca dos Pronunciados” de Antonio Paulo de Athayde. Além
da trama narrativa que passo a resenhar, um comentário de José Carlos Porto na
folha de rosto desta publicação frisando que o autor “situou a ação do seu
“thriller” na eterna luta entre o racional e o obscuro.”.
Permito-me inicialmente, a usar o
termo trama narrativa em substituição
a “thriller” que remete à produção cinematográfica, embora se perceba que a
obra em questão contém elementos suficientes para transformar-se em
cinematografia pela excelência das descrições construídas pelo autor como cenários e personagens, bem como as
ações ali desenvolvidas. Tão surreal
como o aparecimento do fanatismo religioso em meio a um processo de disputa
entre os Estados do Paraná e Santa Catarina entremeado com a sublevação de
operários da empresa inglesa que construía a estrada de Ferro no meio oeste do
Estado de Santa Catarina. O autor segue uma vertente criando uma história que
se encaixa perfeitamente no contexto histórico e na consciência coletiva do
processo que passa a ser o núcleo da narrativa transcorrida num lugarejo
denominado Fênix.
Antonio Paulo retoma um tema
muito discutido na historiografia catarinense e brasileira que foi a chamada
Guerra dos Pelados ou Guerra do Contestado ocorrida de 1912 a 1916.
Na verdade, a criatividade do
autor desenvolve o tema a partir de dez anos após um episódio tantas vezes relatado,
mas com enfoque diferente,sob o prisma de um novo personagem e de uma
comunidade esquecida e criada a partir de um personagem adepto de João Maria
,ora citado como santo ou religioso ,ora como um fanático ou louco que tanto
confundiu os envolvidos do Contestado.
Em decorrência das pregações do
místico João Maria, o personagem da
trama de “ A Marca dos Pronunciados”,uma espécie de ditador místico fanático, cuja mente e
atitudes são baseadas no que chama de escrituras recebidas daquele ser ambíguo
que passou para a história como santo ou como louco.
.Como se lê na contracapa da obra
este processo torna-se surreal com o aparecimento do fanatismo religioso, que
no caso da obra de Antonio Paulo forma a vertente que passa a ser o núcleo da
narrativa transcorrida num lugarejo denominado Fênix.
A criação do autor, passa a ser uma novela interessante,
com encadeamento perfeito de ideias e soluções dignas de uma adaptação
cinematográfica pela clareza e coerência
de sua explanação, além da importância dos fatos narrados que nos
remetem ao desejo de conhecer mais a respeito daquele sangrento episódio
desenrolado no território catarinense pela disputa de terras entre Paraná e
Santa Catarina
.”A Marca dos Pronunciados” traz
todos os elementos narrativos capazes de prender a atenção do leitor, fazendo
com este deseje continuar a leitura com interesse e curiosidade em relação à
sequência narrativa e seu desfecho final uma vez que está implicitamente ligada
aquele episódio histórico.
Surge assim, um novo autor que
promete criar obras de ficção de qualidade histórica e literária. A leitura é
agradável pelo bom encadeamento das
ideias e muita verossimilhança com o
contexto histórico de então prendendo o interesse a ponto de ser difícil parar
a leitura.
Uma obra realmente inaugural e
digna de um bom escritor como demonstra ser o autor de “A Marca dos
Pronunciados”.
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