quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Lise, a bonequinha de pano

Lise, a bonequinha de pano  apareceu hoje na minha vida. Veio de surpresa.De mansinho.Silenciosa e feliz.
Cabelos cor-de-rosa e vestido verde-limão.Pequenina,surgiu no meio da gurizada como quem nada quer,ou por outra, como quem quer sim , fazer os outros felizes!
Nasceu como um gesto de carinho.
Como quem oferece uma rosa.Estende a mão e  dá  mais, muito mais que a beleza de uma flor.Oferece um sorriso encabulado ,uma obra de criação.
Nos cabelos uma fita da cor do vestido ,cor que lembra a primavera que rola lá fora.
Primavera no coração...
Ontem a gente nem se conhecia e hoje ,somos grandes amigas. Até veio morar na minha casa!
Lise nasceu de repentina amizade.Como só sabem ser as amizades que nascem de um encontro feliz.Nasceu do sonho de uma menina , com mãozinhas de fada.
Sim,porque Jaqueline é uma fada na escola.É, porque as fadas também estudam,têm amiguinhos,e gostam de ler.Elas até se escondem dentro dos livros,mas de quando em quando elas saltam de lá e a gente pensa que são meninas comuns.
Naquela manhã de primavera as horas travessas correram ligeiro demais.A gente tinha tanta coisa pra trocar.Era um troca palavra pra cá,troca palavra pra lá que ninguém viu a hora passar.
E a Lise, quietinha olhando tudo, muito curiosa!
Então ,a visita falou, falou, falou um monte de tão feliz porque estava conhecendo tantas fadas e  pequenos príncipes disfarçados de meninos e meninas. Seriam agora amizades novas, morando nas caixinhas de memória.
Eram tantos olhos brilhando,todos pensando juntos e se conhecendo.
De repente,um conto saiu de um livro, ganhou o palco e virou atração principal.Todos ligaram o ouvido e escutaram uma linda história que a tia de todos contou.
Lise se sentiu em casa.Ela também era uma obra de criação que nasceu das mãos carinhosas de uma fadinha estudante, tal qual o conto que saiu do livro que a tia abriu e soltou.
Mas ,as surpresas não acabaram.Mais personagens ganharam o mundo! 
De dentro de uma linda caixa saltaram  lindos desenhos! Todos muito coloridos!
A mágica virou festa e a festa virou o  amor que ficou  rodopiando no meio da sala.
Cada um pegou um pedacinho do amor e guardou no fundo do coração.
Como o tempo  não espera ninguém ele foi chegando e cutucando todo mundo, travesso como ele só. Estava na hora de partir...
.Mas, ele, o tempo, não sabe que os pedaços de amor que giravam na sala: Lise, a bonequinha de pano,os desenhos coloridos, o conto que caiu do palco esconderam -se do tempo para não ter  que partir e se esconderam no coração das visitas , das fadas professoras, dos príncipes e das fadinhas.
Assim  ,escondidas do tempo, as surpresas  farão lembrar o dia em que a Lise nasceu..

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Resenha do livro "A Cidade dos Desgraçados"

Hugo Máximo

*Publicado no Boletim “O Balainho”


Neste livro, Hugo Máximo demonstra seu domínio sobre o romance de sus-pense com fortes componentes visuais o que nos faz refletir sobre as possibili-dades de apresentação cinematográfica, o que o transformaria num filme de terror .

A obra transpõe os limites da realidade e nos conduz totalmente a uma dimen-são surreal onde se trava a batalha entre o bem e o mal, entre a fragilidade humana e o poder das trevas.

A trama muito bem urdida mantém o sobressalto até o último capítulo e a lei-tura como que nos faz reféns ao lado dos personagens , solidarizando-nos com eles e sentindo os horrores que enfrentam.

Classificando-o como fábula, o autor nos incita à decodificação de um conteú-do polissêmico , portanto altamente metaforizado.

A Cidade dos Desgraçados- contém ingredientes insólitos e nos coloca frente a frente com nossos limites.

O tema traz à tona a questão da acomodação e do servilismo diante do poder maior e do medo ao mesmo tempo que demonstra a capacidade humana de superação do ceticismo e do medo.

E é esta superação a única forma de salvação. O suspense em que a trama mantém o leitor é digno dos mestres deste estilo.

Resenha do livro "A Vitória de Vitória "

Urda Alice Kluger
*Publicado no Boletim “O Balainho”


Segundo Ziraldo, cartunista e escritor, um dos autores de maior sucesso na área, escrever Literatura Infantil e Juvenil não é escrever infantilmente.Pelo contrário : “ escrever para crianças requer um esforço dilacerante, uma vez que é necessário reencontrar em si mesmo a criança com sua fé, sua confiança e uma ingênua capacidade de ver o lado lúdico de todas as coisas.

É com esta capacidade que a escritora Urda Alice Kluger, autora de vários romances históricos, livros de viagem, obras memorialistas e documentários, aventura- se pelo mundo da Literatura Infantil e Juvenil com o livro “A Vitória de Vitória”.
Neste trabalho, serve-se a autora deste rico recurso de expressão poética, a personificação ou animação, uma das chaves de sucesso no gênero infantil ,usado desde sempre nas obras que encantam a infância de várias gerações em todos os países.

vista ,às fábulas e histórias em que os animais falam, sentem e pensam como seres humanos.Neste maravilhoso mundo de encantamento, absolutamente tudo, pode “ser” alguém que se emociona,que sofre,que apresenta sentimentos profundos como a dor da perda de um ente querido,a dor da saudade; como também pode ser enganador, esperto e maquiavélico como o lobo mau que se faz de manso e inocente para capturar a ovelhinha que tranqüila bebe água da fonte, da fábula de Esopo, ou para enganar a menina que atravessa tranqüilamente o bosque como em “O Chapeuzinho Vermelho”.
datem a capacidade de ousar, atribuindo vida a uma colher que “orgulhava-se” por ser uma colher com um cabo caprichosamente esculpido com cachinhos de uva e que se “ruborizava” quando alguém elogiava sua beleza.
Mas, a colher que se chamava Vitória e que vivia dentro de um estojo forrado de veludo,passou também por várias dificuldades e sofrimentos , como ter sido trocada de donos várias vezes e ter sido afastada de seus amigos, os demais talheres , entre eles um especial, de nome Herbert , orgulhoso e ranzinza com a própria sorte.
Para falar do tema da perda e separação ,a autora faz com que o faqueiro , onde reside Vitória, além das muitas trocas de casas, se desintegre separando seus moradores durante uma das muitas enchentes que assolavam a bela cidade de Blumenau,personagem presente em quase todas as obras da autora.
Desta forma, sutilmente, estes temas vão trazendo o tema da contingência dos seres e situações , através de um elemento que adquire vida para contar uma trajetória comum para a humanidade .

Nos contos maravilhosos que nos foram narrados na infância, os personagens preferidos para a personificação foram os animais, seres irracionais, portanto, não seres inanimados; estes últimos foram menos explorados.Exemplo mais famoso são as cartas de baralho, que formam o universo de “Alice no País das Maravilhas” de Lewis Carrol,cujo tema revela principalmente a subversão das regras e valores ,como também subversão da linguagem, ou brinquedos como “O Soldadinho de Chumbo de Hans Christian Andersen – que traz a consciência da precariedade da vida, entre outros.
Assim sendo, “A Vitória de Vitória” ,está entre o que chamamos de conto do fantástico-maravilhoso,ou seja,do mundo imaginário ou da fantasia. Utiliza além da personificação –ou animação de seres inanimados – o fator do estranhamento, que faz de uma colher , este objeto tão útil ,ser transformado em um “ser” que sente todas as dores e alegrias de um ser humano.

A “Vitória de Vitória” é uma história que contém todos os ingredientes mágicos que encantam crianças e adultos e ainda traz , nas entrelinhas, uma constante alquímica da autora , que é a transposição das angústias vividas por Blumenau nas várias enchentes que chegaram a ameaçar a existência desta bela cidade, bem como a inserção de realidades tais como :velhice morte e separação, reação e retorno permanente ao lado de um uma expectativa do bem, do melhor.

Assim mesmo , têm sido as vitórias de Blumenau, terra de Urda Alice Kluger.

Resenha do livro "Na Terra do Faz de Conta"

Cardozo. Flávio José. “O Tesouro da Serra do Bem-Bem” São Paulo. Ed.Saraiva, 2002

*Publicado no Boletim “O Balainho”


Neste livro para a infância, Flávio José Cardoso, autor reconhecido nas letras de Santa Catarina pelas inúmeras obras endereçadas com sucesso aos amantes do romance, da crônica , etc resolve dedicar aos mais jovens um espaço den-tro de sua produção ficcional.

Para isto, resgata o olhar infantil relegado a segundo plano, temporariamente, em seu imaginário e em companhia de Xandro , Leco e Lucinha viaja no es-paço do fantástico maravilhoso , ciceroneados pelo Bem-Bem , um bem-te-vi segregado do bando por ser diferente .Apesar disto,é ele que conduz os perso-nagens para as terras distantes da meninice ,lá pelas bandas da Serra do Rio do Rastro ,onde estão fincadas suas raízes.

De repente, enfeitiçado, provavelmente pelas bruxas da ilha , lá no seu refúgio de Santo Antônio de Lisboa , o autor é seqüestrado para o mundo mágico da infância onde o espaço e o tempo se curvam aos nossos desejos e transforma o cotidiano do refúgio , no reino encantado , do bem-te-vi Bem-Bem ,condutor da aventura.

E aqui, o tema da diferença, do abandono e das possibilidades nunca sonhadas compõe uma delicada história que envolve a alma infantil sempre aberta ao extraordinário e à inclusão do mundo fantástico, numa aventura partilhada , em que a liberdade flutua nas entrelinhas através dos elementos :um perso-nagem alado , espaço e tempo indeterminados ,transformações inesperadas, que compõem a estrutura imaginativa da narração.

Pela subversão da realidade o jardim do refúgio se transforma no universo fantástico onde as coisas são o que se quer que elas sejam.
Tempo e espaço não contam. Desaparece o confinamento da visão adulta e o ouvido é capaz de perceber o som diferente do Bem-Bem.

Conduzido pelas crianças e pelo pequeno bem-te-vi, o Vô Pedro embarca no carrinho de mão do jardineiro que é, neste nível, uma possante caminhonete XLL-1000 e todos juntos partem paras os caminhos da serra do Rio do Rastro, em busca de um tesouro que só o Bem-Bem sabe onde está. E o Bem-Bem, é na verdade o próprio autor, livre para voar às paragens da infância acompanhado dos netos, com os quais deseja partilhar sua meninice – o tesouro a ser encontrado.

No espaço do jardim cabe não só a fantasia como também todas as cidades, que vivem na memória do autor e que margeiam a estrada que levará ao alto da serra onde está o tesouro do Bem-Bem.

O tempo da trama é permeado do tempo da memória e o espaço do jardim é o espaço subvertido da aventura; a distância pode ser vencida sem sair de casa e num simples carrinho de mão esquecido no galpão.

A simbologia da literatura infantil está presente no personagem Bem-Bem,o condutor da aventura. Seres alados e seres humanos buscam o tesouro da li-berdade, da percepção dos universos que nos cercam, da valorização das dife-renças,da subversão das convenções e das possibilidades .

As ilustrações são de Evandro Luiz e como sugere a contra-capa: Se você de-seja saber que tesouro se esconde no alto da serra procure ler rapidinho este livro lembrando , se for adulto, que através da leitura poderá voltar à infor-malidade e à despreocupação da infância .

Se é criança,pode embarcar na XLL-1000 e boa viagem.